Apropos of Nothing, de Woody Allen

by - 9/15/2020

Foto: Diane Keaton/Arcade


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Cercada de polêmicas, a autobiografia do diretor americano Woody Allen foi lançada nos Estados Unidos em maio de 2020 e tem previsão de chegar ao mercado brasileiro nos próximos meses. Escrevi sobre o livro para o Scream & Yell. Leia um trecho da resenha abaixo.

Após 84 anos bem vividos, Woody Allen resolveu contar sua história na autobiografia “Apropos of Nothing” (Arcade), lançada nos Estados Unidos e Europa no primeiro semestre de 2020. Não sem antes enfrentar uma polêmica com a Hachette, editora original da obra, que acabou desistindo da publicação em função de um protesto de funcionários e do boicote por parte da ex-companheira do autor, a atriz Mia Farrow, e do filho do casal, o jornalista Ronan Farrow.

Em 392 páginas que fluem harmonicamente entre o drama e a comédia, como os principais filmes do diretor nova-iorquino, Allen resgata suas memórias desde a infância no Brooklyn, entre os anos 30 e 40, passando pelo início da carreira como escritor de piadas para comediantes já estabelecidos na cena local, suas primeiras experiências no cinema, a conquista do público e da crítica nos anos 70 e, finalmente, os dissabores promovidos por Farrow e o “cancelamento” do artista no século XXI.

Aliás, “Apropos of Nothing” surge em um momento no qual Allen vem sofrendo um verdadeiro boicote na indústria do cinema nos Estados Unidos, após as renovadas acusações da ex e da filha adotiva do casal, Dylan, a respeito de um suposto crime de violência sexual cometido pelo diretor quando a menina tinha apenas sete anos de idade.

Pela primeira vez, o cineasta entra em detalhes sobre o que chama de “falsas alegações”. Você já deve conhecer a história: em 1992, Allen (na época com 56 anos) e Soon-Yi Previn (outra filha adotiva de Farrow, então com 22 anos), passaram a viver um relacionamento. A partir daí, uma montanha-russa de acontecimentos levou Farrow a acusar Allen do suposto abuso a Dylan, que teria ocorrido em uma casa de campo da atriz, em Connecticut. O processo não foi levado adiante pela justiça americana após duas investigações bastante detalhadas, com direito a depoimento mediado por um detector de mentiras. Allen passou no teste, enquanto Farrow se recusou a se submeter ao polígrafo.

Apesar do tom divertido, diretor fala sério na hora de contar sua versão a respeito das acusações de abuso sexual. O cineasta dedica boa parte do livro para se defender. Diz que, na época, o caso foi considerado uma fabricação por parte de Farrow, por não haver qualquer evidência de que Dylan havia sido molestada — versão corroborada por testemunhas como babás e até mesmo Moses Farrow, filho adotivo de Mia que ficou ao lado de Allen na disputa. Não é que Dylan ainda esteja mentindo, na opinião de Allen. O diretor acredita que ela é uma vítima, sim, mas da própria mãe, após anos e anos ouvindo-a martelar insistentemente que teria sido abusada pelo pai. Isso justificaria, inclusive, seus depoimentos recentes acerca do ocorrido há 28 anos. Há estudos que comprovam essa possibilidade.

Ainda assim, os detalhes são bastante complexos. Mesmo sem encontrar evidências, o juiz do caso, o controverso Elliot Wilk, já falecido, definiu que Dylan precisava ser protegida e Allen perdeu o direito de visitação à filha, enquanto Ronan podia ver o pai apenas acompanhado de um assistente social. O diretor desistiu de conviver com o filho após um ano, argumentando que o tempo passado com ele era insuficiente para construir um verdadeiro laço familiar. Além disso, Mia declarou que Ronan poderia, na verdade, ser filho de Frank Sinatra.

Mas o melhor do livro, porém, fica para o resgate das memórias do autor como comediante stand-up, diretor de cinema e músico amador. Para quem tem a oportunidade de ler a obra em inglês, é inevitável “escutar” a própria voz do artista enquanto as páginas são devoradas. O estilo conversado, inclusive, remete à cena final de “Manhattan”, filme de 1979 no qual o personagem Isaac Davis (interpretado pelo próprio Allen) deita-se no sofá e, com a ajuda de um gravador, começa a registrar em áudio tudo o que “faz a vida valer a pena”.

Para conferir a versão integral da resenha, acesse o texto no Scream & Yell.

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