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Foto: René Cabrales

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PORTO ALEGRE, RS – Ivone Pacheco nasceu em Porto Alegre (RS). Após a infância e a adolescência vividas ao redor do Hotel Metrópole, de propriedade do pai, no Centro da capital gaúcha, dedicou a vida adulta ao casamento, aos filhos e à carreira como professora na rede estadual do Rio Grande do Sul.

Ou quase isso.

No começo dos anos 80, Ivone decidiu, como em uma canção de Charles Mingus, fazer uma parada brusca, para voltar com tudo logo a seguir. Em 1982, iniciou um lendário clube de jazz no porão de sua casa, no bairro Petrópolis – o Take Five –, que mudou para sempre sua trajetória.

Nesta entrevista, concedida há 10 anos para a revista Panvel Sempre Bem, em uma pauta que deveria focar em saúde e bem-estar para pessoas acima de 60 anos, Ivone abriu seu porão e revelou histórias e impressões sobre o mundo que foram pouco aproveitadas na matéria original, mas que não poderiam ficar restritas ao arquivo pessoal de um jornalista.

Pela primeira vez, a versão completa desta conversa é publicada, extraída do arquivo de áudio original em que foi gravada, em uma manhã de dezembro de 2008, no famoso porão onde ocorrem, até hoje, as sessões de jazz do Take Five.

No bate-papo, Ivone revelou as ideias de uma mulher que vive à frente do seu tempo, mas que também acredita em instituições tradicionais. “Para mim, um homem e uma mulher morarem juntos, é casamento. E casamento tem que ser na igreja e no cartório. Quer dizer, eu sou careta, mas pra música eu sou louca. É só ali que eu me liberto. Eu continuo sendo aquela menina educada em colégio de freira”, confidenciou.

Mais do que uma mãe, uma esposa ou uma professora, no entanto, Ivone sempre se viu como artista. “O artista, por ser muito sentimental, ele sofre mais. Eu vejo a vida por outro prisma. Eu vejo pelo lado espiritual”.

Boa leitura.

***

LT - A senhora desde criança teve contato com a música. Conte um pouco sobre como foi esse começo.

Ivone Pacheco – Com quatro anos, eu tocava piano sozinha. Eu me criei em um hotel, do qual meu pai era dono. E, com oito anos, eu comecei a ter aula particular. Naquele tempo, a professora ia em casa. No começo, eu brincava, tentava tirar músicas sozinha. E aí, com oito anos, a professora veio me dar aulas. Uma senhora um dia me ouviu tocando e falou para minha mãe, “olha, essa menina tem que aprender música, ela tem ouvido”. E aí eu comecei com aulas particulares.

Isso foi, foi, foi... Eu cheguei até o oitavo ano. Estudei música clássica, erudita. Mas eu não gostava daquilo. Eu assistia filmes americanos e me entusiasmei pelo jazz desde criança. Com 12 anos, eu já queria fazer harmonia jazzística, e a professora me batia nas mãos, porque ela não admitia aquilo. Eu tinha que tocar Chopin, Beethoven, Mozart, Bach. Estudei até o oitavo ano. Com a morte da minha mãe, eu interrompi os estudos.

Depois, retomei um pouco, [nota do editor: nos anos 70, já casada e com filhos, Ivone estudou no Liceu Musical Palestrina, antiga escola de música de Porto Alegre, que encerrou as atividades no ano 2000] mas toda moça tinha que casar. O homem tinha que fazer o serviço militar e a mulher tinha que casar e ter filhos. E o meu pai, de origem italiana, começou a perguntar... Ele queria se livrar das filhas, eu acho, né? Para poder se casar também. Só que ele não casou.

A minha irmã também tocava violino e cantava. Isso estava na raiz da família – na Itália já tínhamos uma cantora na família. E a minha mãe também cantava em casa. Trechos de óperas, cançonetas italianas. Mas aí, eu interrompi e começou aquela ideia, “tem que casar, tem que casar, não adianta tocar piano”. O meu pai não queria que a gente fosse artista. Então, eu casei, já com 27 anos. Naquele tempo se costumava casar virgem, né? Então, tu vês o tempo que a mulher perdia com namoro, noivado e casamento. Bom, aí, em seguida vieram os filhos. Eu tenho três filhos, duas moças e um rapaz.

LT - O clube de jazz já tem 26 anos [nota do editor: atualmente o clube já tem 36 anos]. Como ele surgiu na sua vida?

Ivone Pacheco – É, o clube já vai fazer 27 anos. Eu fui descoberta por um jovem chamado Marcos Ungaretti. Ele é compositor e, na época, estava na colônia de férias da UFRGS, tocando num piano velho. Eu sentei depois e fui tocar um pouco. Aí ele disse assim: “a senhora toca jazz”. Eu nem sabia que eu tocava jazz.

Ele achou meu estilo interessante, fez amizade comigo, me levou para conhecer o estúdio da banda dele, o Grupo Raiar. Me levou para conhecer a família dele. E me convidou para ir pro Teatro Renascença, onde ele deu um show com a banda dele. Aí, ele vinha aqui tocar comigo, mas o piano tava na sala tradicional, lá de cima. Aí deu uma “descambada” na família quando a coroa inventou de baixar o piano e fazer o clube de jazz aqui embaixo.

Eu tinha uns quarenta e poucos anos, quase 50 – é a hora em que a mulher dá uma virada, sabe? Eu já tava cheia daquilo de marido, filhos, prisão. O casamento pra mim foi uma prisão. E eu era professora no Estado também.

A minha irmã falou pra mim, “tu vais sair de casa”. Como assim, sair de casa? “Tu vais trabalhar fora e estudar fora, já que tens o piano tu vais tirar Educação Musical, eu pago a faculdade pra ti, e tu cai fora de casa, porque tu tá desatualizada, só envolvida com comida, casa e criança”.

Aprendi a tocar acordeão, que o gaúcho chama de gaita. No nosso sangue italiano tem música. A minha irmã estudou violino, cantava sem ter aula com professora particular. Eu, com o tempo, comecei a cantar música francesa. O pessoal gostou muito. Eu faço música francesa e canto, é um outro trabalho. Mas tem um carro-chefe que é o piano, e é o jazz.

Afinal, eu disse, vou abrir um clube de jazz. “Onde?”, perguntou o Marcos. “No meu porão”, eu respondi. Aí veio ele e outro rapaz, o Sérgio Jaeger, que também me deu muita força. Aí começaram a me levar pra noite, pra conhecer bares onde tocavam. Se tinha piano, eu dava canja. Aí eu comecei a ir pra noite. E os filhos, naquela fase da adolescência, apavorados. “A mãe enlouqueceu, os magros do Bom Fim tomaram conta da nossa casa!”. Começou assim. Isso foi em mil novecentos e oitenta e poucos [nota do editor: o Take Five começou em 1982].

Uma vez tinha 300 pessoas aqui. Toda a juventude. Aí os coroas tomaram conta, porque os jovens chamavam os pais e os tios que tinham abandonado a música, e eles voltaram a tocar.

LT – E a senhora ganhava algum dinheiro com isso?

Ivone Pacheco – O clube sempre teve entrada franca. Nunca cobrei nada de ninguém. Mas ele também sempre foi meio secreto, porque senão vem muita gente. Uma vez nós fechamos por três meses, porque tinha 200 pessoas, tinha moto, tinha carro, gente que vinha a pé... As pessoas começavam a chamar as outras. Os coroas foram tomando conta. “A tia Ivone, ela mora num porão”, a gurizada dizia. Eles achavam que eu morava no porão, que eu era uma velha meio louca que vivia num porão. Aí, depois, queriam que eu fumasse maconha, e eu respondia, “não, não quero saber dessa coisa.”

LT – Como era essa turma na época que começou o clube de jazz?

Ivone Pacheco – Eles usavam aquelas calças jeans boca-de-sino, largas. E as gurias com aquelas batas indianas. Aí eu passei a me vestir como hippie. Eu não entrei na maconha, mas eu adorei aquela vestimenta hippie, aquela coisa liberta. Uma coisa estranha, bem indiana. Porto Alegre estava forrado disso. O movimento era no Bom Fim, mas eles subiram para cá e vinham tocar. Tocavam bateria.

Na primeira sessão tinham 25, depois já aumentou. Foi aumentando. E eu fazia toda semana. Aí eu comecei a cansar, e a vizinhança começou a reclamar, né? Porque era três, quatro da manhã, e eles queriam continuar tocando. Era sempre aos sábados. Agora eu faço três sessões do clube só por ano, porque eu cansei.

LT – A senhora também tocou muito fora do Brasil. Como foram essas experiências?

Ivone Pacheco – Mais para o fim dos anos 80, eu toquei nas ruas em Nova Orleans, em Nova York e em Paris. Fui fazer pesquisa de jazz. Fui primeiro com a minha irmã, depois com a minha filha. E em Paris eu ganhava moedas do mundo inteiro.

Toquei muito em Brasília, no interior do Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio. Toquei em Porto Seguro. Lancei um CD só, até tenho que fazer mais. Eu vendi muito CD. A experiência de Nova Orleans foi muito boa, porque eu conversava em espanhol com os músicos de lá. Eu não falo inglês. Falo italiano, francês, espanhol. Eu não gosto muito da língua inglesa.

Lembro também que toquei numa travessia de Nápoles a Capri (Itália) num naviozinho. E comemorei meu aniversário de 76 anos em Atenas (Grécia), então toquei num navio grande em que velejamos na Grécia, agora há pouco.

Mas eu nunca tive um promoter, alguém que pudesse me ajudar a conseguir shows. Eu tinha a secretária eletrônica, que era a minha “empresária”. As pessoas deixavam os recados. Mas agora ela estragou.

Toquei muito em Pelotas, também.

LT – É mesmo? Eu sou de Pelotas.

Ivone Pacheco – Ah, tu és de Pelotas? Eu toquei no Sete de Abril – três vezes por ano me chamavam. E eu ficava no Hotel Manta. E tocava num bar, um bar que estava estourando na cidade, eu acho que tu era muito pequeno, não deve saber...

Também toquei na Argentina, no Chile. Cada viagem que eu fazia, eu dava uma canja e já me contratavam. Só que eu não ficava muito tempo. Toquei muito em happy hours em Brasília, em hotéis e restaurantes, no Feitiço Mineiro. A Cida Moreira que me indicou para o restaurante. Então, eu não posso me queixar.

LT – Conte um pouco mais sobre essa experiência que, como a senhora mesmo fala, foi de “libertação”: de que forma a relação com a música se consolidou na sua vida?

Ivone Pacheco – Toco piano, acordeão, escaleta, teclado e castanhola. A gente, quando é solteira, aprende muita coisa. Depois, a vida se vira para o marido e os filhos. Então, eu abracei a música depois que eles estavam crescidos, e pelo clube de jazz, por causa do Marcos. Aí, eu abracei direto, até hoje, e não renuncio.

Eu precisava abraçar outra coisa na minha vida. E eu acho que a coisa certa é a música. É uma coisa espiritual, é uma arte. Eu acho que a gente sobrevive com a arte, a pintura, a dança, o canto. Tem muita coisa na arte que tu abraça e tu esquece do resto. E eu esqueci de tudo.

Eu vivo pra música, meus amigos são todos músicos. E esse clube aqui foi visitado por muita gente. Agora vou ganhar um teclado Roland de presente. Vão levar para mim para eu tocar nos lugares.

LT - Em termos de qualidade de vida, quais os benefícios que a música trouxe para a senhora?

Ivone Pacheco – Pra mim, a música foi meu orgasmo. O orgasmo espiritual é o melhor de todos. A música é tudo para mim, porque foi interrompida. Ela é o meu amor antigo. E eu busquei. Sem querer, ela chegou na minha mão. Sem querer não, foi por intermédio do Marcos. Ele colocou a música na minha vida novamente. Porque eu casei e abandonei tudo. Eu me dediquei só ao marido e aos filhos. E a minha irmã veio de Brasília e me sacudiu e disse, “olha, vai pra rua, vai pro mundo. Tu tá só entocada dentro dessa casa. Isso não é vida”.

LT - A senhora acredita que uma pessoa acima de 60 anos tem condições de começar a tocar um instrumento, mesmo que nunca tenha tocado?

Ivone Pacheco – Depende da vontade, do talento. Tem que ter ouvido, mas também boa vontade. Acho que não tem idade para a pessoa recomeçar. Mas precisa de tempo. Eu praticava três horas por dia, mas alguém de idade mais avançada que vá começar agora, precisa se dedicar mais. O que não pode é, com 60 anos, cruzar os braços e dizer que está muito velho. Porque ele pode chegar a 90 anos. E vai ficar 30 anos fazendo o quê? É isso que eu digo. Eu achava que ia viver até 50 ou 60, e eu já estou com 76. E eu quero chegar aos 90, no mínimo. E a música vai me levar até lá. Pode ser sem uma perna, deitada, sentada. Tocando, eu vou viver.

A música evita o Alzheimer, tu sabia? Dizem que crochê, palavra-cruzada, computador, dizem que todo velho tem que lidar com isso. Eu estou sempre atualizada, vejo televisão, vejo DVD. Mas eu gosto é de filme antigo. Aí tem que procurar, então não estou vendo muito. Mas estar a par do que está acontecendo no mundo, eu acho que tem tempo. Não existe isso de “estou velho”, o que vale é o espírito. É a cabeça estar funcionando e atual. Eu lido com gente jovem, não com velhos. Eu não posso ir para uma geriatria, porque eu quero viver. Eu quero ser útil. E quem tá me ouvindo, diz que o meu estilo está evoluindo ainda.

LT – Muitas pessoas de mais idade reclamam da solidão. A senhora se sente sozinha?

Ivone Pacheco – Eu adoro a “solitude”. É tu ficar contigo mesmo e gostar de estar só. Tu já sentiu isso?

LT – Já. Eu moro sozinho.

Ivone Pacheco – Tu mora sozinho? E tu gosta de ficar sozinho?

LT - Gosto, mas não o tempo todo.

Ivone Pacheco – Eu acho que eu sempre fui assim, mas não podia, né? Existe o momento para tudo acontecer. E a pessoa tem que estar na busca, pois se ela fica parada, ela não encontra nada. Tem um trecho de um livro que eu li, do Jorge Luis Borges. “Caminante, no hay camino / se hace camino al andar” [nota: na verdade, a poesia é de autoria do espanhol Antonio Machado]. Tu tem que sair da tua ostra, para ver o que está acontecendo lá fora. Sem caminhar, eu não seria o que eu sou hoje. Eu toquei em bares, aí começaram a me chamar. Eu dei canjas. Fui caminhando sempre. Eu dei aula no Estado, aquilo era uma prisão, era uma jaula.

LT - A senhora deu aula até se aposentar?

Ivone Pacheco – Sim, com 60 anos. Eu demorei um pouco mais, pois eu tirava licenças para poder me dedicar à música. E eu ganhava mais com a música do que como professora. Mas a gente já está saindo do assunto da entrevista, né? O que interessa é o clube de jazz, as minhas viagens, onde eu toquei. Tu vai selecionar aí pra colocar lá no jornal, né?

***

É neste ponto que a gravação se encerra. Já havia conseguido o que precisava para a minha pauta, mas por mim, passaria o resto da tarde ouvindo as histórias de Ivone, tentando buscar mais detalhes, conectando os pontos e as informações na linha do tempo que ela trazia, de memória, no improviso, como um bom jazz. Ela, naturalmente, já estava cansada, e terminamos por aí.

Fui convidado para a sessão seguinte do clube, que ocorreu em abril de 2009, e pude ver e sentir um pouquinho do clima vivido por aqueles jovens – se não de corpo, definitivamente de alma – desde os anos 80. Hoje, com 86 anos, Ivone ainda participa de sessões do Take Five eventualmente (hoje organizado por sua filha, Rosa Maria Marin Pacheco), apesar dos problemas de saúde. Como ela mesma diz, segue firme rumo aos 90 anos. “A música vai me levar até lá. Tocando, eu vou viver”.


Entrevista original publicada na Revista Panvel Sempre Bem, em janeiro de 2009. A íntegra está sendo publicada pela primeira vez neste site.
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Foto: Bruno Maestrini

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PELOTAS, RS - Eles vieram. Os cariocas da banda Los Hermanos estiveram em Pelotas para apresentação única no Teatro Guarany, no dia 15 de abril de 2004. Centenas de fãs ávidos para conferir o quarteto no auge de sua forma lotaram o local em mais uma noite mágica, cheia de poesia e de belas melodias. Depois do show, batemos um papo rápido com Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, as duas mentes criativas por trás do som dos Los Hermanos.

Projeto Casulo - Como a banda foi recebida em Pelotas? O que acharam da cidade?

Marcelo Camelo - Eu, na verdade, dormi o dia inteiro. A gente chegou cedo de Porto Alegre, onde tocamos na noite passada, e não tivemos muito tempo pra dormir. Mas fiquei muito surpreso com a beleza do lugar. O teatro também é muito bonito e é bom tocar em lugares que privilegiam o som. Não é muito comum pra gente tocar em lugares com uma acústica boa assim. Nos preocupamos sempre com a qualidade do som e que as pessoas ouçam a música como ela realmente é. Quando tocamos em lugares com acústica ruim é horrível, porque a informação não chega para o público como deveria.

PC - Vocês tinham alguma expectativa em relação ao público pelotense? Se tinham, ela foi alcançada?

Camelo - Eu acho que sim, a gente tem encontrado em todo o país um público que realmente gosta da nossa música. Mas aqui, especificamente, é muito longe da nossa cidade e, por não ser uma capital, geralmente a informação demora um pouco mais pra chegar. A gente fica feliz de saber que temos um público aqui e que a nossa música está chegando.

PC - No ano passado, assistimos a um dos primeiros shows do Ventura, em Porto Alegre. Mesmo com o disco recém lançado, todo mundo cantava todas as músicas e vocês pareceram um tanto surpresos com isso. Essa devoção que os fãs tem em relação à banda assusta?

Camelo - Não, cara, a gente sente muito prazer em tocar as músicas. Às vezes as pessoas acham que ficamos surpresos, mas estamos apenas felizes, alegres de estar tocando e de ver as pessoas cantando junto. Porto Alegre é uma cidade em que a gente tem ido com frequência, pois temos um público forte lá.

PC - Qual a diferença entre os shows do começo da turnê e os de agora, quase um ano depois? Vocês estão mais à vontade?

Rodrigo Amarante - Sim, o lance de ficar à vontade tem a ver com o tempo mesmo, a gente passa a brincar mais, um fica chamando a atenção do outro, a gente se diverte mais.

PC - Os arranjos mudam um pouco também, não?

Amarante - É, têm várias referências, várias músicas têm sutilezas diferentes. Isso é a gente brincando, passando do ponto de conseguir tocar direito as músicas e chegando em outro estágio. E ver essas coisas acontecendo ainda com a reação do público é mais um incentivo pra continuar sempre mudando um pouquinho as músicas.

PC - Vocês estão compondo músicas novas durante as viagens? Durante a passagem de som vocês estavam tocando algumas coisas diferentes.

Amarante - É, estamos sempre compondo. Essa da passagem de som realmente era uma música nova, que ainda está pela metade. É bom ir sempre trabalhando nas músicas novas para que dê tempo de fazer um bom trabalho com os arranjos, quando a gente se isola num sítio, no Rio. Geralmente eu estou sempre atrasado e tenho que fazer tudo em cima da hora, mas até agora estou dentro do prazo.

PC - Sobre os fãs procurarem significados nas letras...

Amarante - Ah, tem mais é que procurar significado! Senão a letra serve pra quê?

PC - Então vocês escrevem as letras com significados próprios mas, ao mesmo tempo, permitem interpretações dos fãs?

Amarante - Não existe um significado próprio, só meu. Eu escrevi, e o que tá escrito é o que existe. Não tem um significado meu. Quer dizer, pode até ter, mas ele também pode mudar. Eu vivo encontrando coisas novas nas músicas que eu mesmo escrevi. Cada um pode interpretar de um jeito. "Do Sétimo Andar", mesmo. Eu já ouvi várias interpretações maluquíssimas em relação a essa música.

PC - Como a do cachorro... [Nota: muitos fãs acreditam que a letra de "Do Sétimo Andar" seja sobre um homem que sente falta de seu cão].

Amarante - É. Por isso que eu acho furada essa história de prova de interpretação. Não tem interpretação errada. Cada um imagina uma coisa. O cara pode falar que essa música é sobre um cachorro e pronto (risos).

PC - Sobre a forma de compor, fica bem claro que existem diferenças entre os dois, Amarante e Marcelo. Uma fã escreveu num fórum sobre a banda na internet que "o Amarante é só pra fazer sexo, o Marcelo é pra casar". O que vocês acham disso?

Amarante - Tá vendo? Cada um pensa o que quer. Inclusive grandes besteiras (risos).

PC - Vocês já têm planos para os próximos meses?

Camelo - Sim, vamos tocar em Portugal no mês de junho. Depois disso, vamos lançar um DVD pra finalizar o trabalho de divulgação do Ventura e começar a trabalhar em um novo álbum, para lançar no ano que vem.

Entrevista originalmente publicada na revista online Projeto Casulo (Abril/2004).
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Foto: Bruno Maestrini

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PELOTAS, RS - "Cara, só vou ali pegar uma cerveja e a gente já conversa". Assim, de forma descontraída, Pedro Verissimo aceitou bater um papo com a Projeto Casulo e falar um pouco sobre sua banda, a Tom Bloch, que em poucas horas tocaria pela primeira vez em Pelotas. Enquanto isso, seus companheiros acertavam o som para a apresentação, que era uma das mais esperadas da noite.

Aliás, o barulho não permitiu que Pedro começasse a falar antes. Sentado numa das mesas da Toronto (casa shows onde ocorria o festival Uns Rock), o músico não conseguia ouvir as perguntas, e o repórter não entendia as respostas. "Vou ali terminar de passar o som, com esse barulho não vai dar mesmo". Sem problema. Pedro sobe no palco e a banda toca duas canções de seu primeiro álbum, intitulado simplesmente Tom Bloch: "O Amor Zero Sobrevivente)" e "Carbonos Perfeitos". Ali já deu pra sentir que a apresentação dos porto-alegrenses seria um dos pontos altos do Uns Rock.

Com o clima um pouco mais tranquilo e silencioso, Pedro fala sobre a banda com segurança, plenamente consciente dos objetivos de seu trabalho. O estrelato não parece ser o ponto principal, a força que move a Tom Bloch. Criar com liberdade, sim. "A gente não tenta fazer música pra agradar a todo mundo, e sim fazer algo de que a gente se orgulhe", afirma o vocalista. Talvez esse seja o  caminho para se criar um som tão original.

É comum encontrar nos textos relacionados ao grupo frases e mais frases sobre como a Tom Bloch não parece com nenhuma outra banda. O som agrega guitarras barulhentas, provenientes do gosto por bandas-chave do chamado indie rock, como Pixies e Weezer, com elementos eletrônicos e  experimentações com computadores, além da voz peculiar e das letras criativas de Pedro. Mas ele não senta para compor pensando em criar a música mais original já feita. Para o músico, "mais importante que ter originalidade é ter personalidade".

Mesmo assim, comparações existem. E não falta gente querendo desvendar o emaranhado de sons diferentes que influencia a Tom Bloch. "Muita gente nos compara a bandas como Radiohead e outros grupos ingleses", diz Pedro. "Acho que isso se deve ao fato de ouvirmos mais ou menos as mesmas coisas que eles, como David Bowie e T-Rex. Não sei exatamente o gosto pessoal desses caras, mas há coisas dos anos 80 das quais não dava pra escapar, como The Cure e Smiths, por exemplo."

Com tantas influências estrangeiras, teria sido mais fácil compor as músicas em inglês. Mas a Tom Bloch não abre mão do bom e velho português, que se encaixa perfeitamente em suas canções. Pedro, filho do escritor Luis Fernando Verissimo e neto de Érico, defende a língua pátria. "Eu falo  português. Agora mesmo, estou dando essa entrevista pra ti, e ela é em português. Não tem por que, na hora de subir no palco, eu me transformar em outra coisa", analisa o músico. Mas ele não nega que muitas bandas nacionais não conseguem soar bem devido aos vocais. Não que isso tenha algo a ver com as letras.

Para o vocalista, isso é mais um problema técnico do que linguístico. No rock nacional, a voz é mixada sempre muito acima dos instrumentos. "É o que eu chamo de síndrome do jingle", brinca Pedro. "A voz é um instrumento como qualquer outro na banda, e deve ser usado para causar sensação. O peso da guitarra e a pressão da bateria são tão importantes quanto os vocais".

A Tom Bloch parece ser uma banda bastante inspirada — e inspiradora, diriam alguns. Mas o que mais inspira a banda, além de música? "Tudo é inspiração", afirma Pedro. "Nessa Casa", a primeira canção do álbum, por exemplo, é baseada no conto "A Casa Assombrada", de Virginia Woolf. E o cinema também faz parte do caldeirão de influências do grupo. "Estamos fazendo uma música nova agora, e sempre que a tocamos eu falo pro pessoal: 'lembrem da Estrada Perdida', filme do David Lynch que eu gosto muito. Pra mim a música poderia ser a trilha do filme".

Hmm, músicas novas? E já tem previsão de quando vão entrar em estúdio pra gravá-las, ou ainda é muito cedo para isso? "Já estamos pensando nisso, sim", revela Pedro. Mas por enquanto a Tom Bloch ainda têm algumas apresentações agendadas. Em agosto, a banda pretende fazer um show diferente, com interpretações visuais das canções sendo projetadas atrás do palco. "É uma coisa um pouco pretensiosa, mas no bom sentido", explica.

E enquanto o novo disco não vem, Pedro continua ouvindo música, mas se complica na hora de dar dicas. "O que eu ando ouvindo? Deixa eu pensar. É difícil, eu ouço muita velharia", diz o músico. "Mas acompanho também a cena atual. Gosto dos Strokes, gosto dos White Stripes. Acho que eles trouxeram de volta uma crueza que estava fazendo falta ao rock. É um som meio largado, mas que também tem uma certa sofisticação".

Para finalizar o papo, Pedro fala sobre o futuro da banda. "Queremos continuar tocando, fazer mais shows, pois somos um pouco preguiçosos nesse sentido. Podemos melhorar ao vivo e pra isso temos que tocar. Quanto mais tu tocas, melhor tu ficas. A prática faz a perfeição".

Cobertura do festival de música Uns Rock, publicada na revista online Projeto Casulo (Maio/2003)
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PORTO ALEGRE, RS — O cinema é uma das mais completas formas de arte: une as imagens da fotografia, a atuação do teatro e a narrativa da literatura para contar histórias que educam e encantam milhões de pessoas mundo afora. Aprenda um pouquinho mais sobre o assunto para absorver tudo o que os filmes podem trazer de bom para o seu dia-a-dia.

Entretenimento. Cultura. Diversão. Conhecimento. Emoção. Todos estes substantivos podem ser aplicados quando se fala de cinema. E, pensando bem, por que não incluir entre eles “bem-estar”? Afinal, seja em um momento mais introspectivo, quando se deseja refletir a respeito de algo, ou quando se está rodeado de amigos, na expectativa por horas de muita descontração, o cinema pode ser nosso companheiro. E isso definitivamente pode ser considerado bem-estar.

Desde o advento do cinematógrafo – primeiro aparelho a registrar fotogramas em sequência, com o objetivo de criar a ilusão do movimento –, inventado pelos irmãos Lumière, em 1895, na França, o cinema evoluiu e encantou multidões mundo afora. Algumas vezes, servindo como um espelho da realidade. Em outras, como uma maneira “viva” de interpretar sonhos e fantasias.

Para o cineasta e professor universitário Carlos Gerbase – que também é um dos diretores da Casa de Cinema de Porto Alegre –, ver bons filmes é tão importante quanto ler bons livros ou ouvir boas músicas. Ele acredita que a arte é uma maneira de entender o mundo em sua complexidade. “O cinema é, ao mesmo tempo, intelectual e emocional, apela para o raciocínio e para os sentimentos. Talvez por isso seja tão poderoso,” reflete.

O crítico Rubens Ewald Filho vê o cinema como uma janela aberta para o mundo. “Com os filmes, pode-se aprender muito sobre outras culturas e países. É, sem dúvida, um instrumento de transformação da sociedade. Mas também pode ser perigoso se cair nas mãos de pessoas erradas, como um ditador, por exemplo,” pondera.

Gosto não se discute

Como qualquer tipo de arte, o cinema também pode ser bastante subjetivo. Ou seja, um filme ou gênero cinematográfico considerado ótimo por uma pessoa pode ser ruim para outra. A velha máxima “gosto não se discute” pode estar desgastada, mas continua verdadeira. O importante mesmo é escolher obras capazes de transmitir aquilo que se espera em cada momento – seja emoção, aventura, fantasia, romance ou qualquer outro sentimento. “Não acho que um gênero seja melhor que outro, mas em cada fase de nossa vida temos preferências diferentes,” afirma Rubens. Para o crítico, o gosto é desenvolvido e adquirido, e tudo ocorre no seu tempo certo.

Outra dica importante para aproveitar melhor a experiência de ver filmes é entender como eles são feitos. Tudo começa a partir de um roteiro, onde são descritas as cenas e os diálogos que contarão uma história. A partir daí, são definidos elenco, locações, figurino, fotografia, entre outros aspectos, sempre sob a liderança do diretor. Para Gerbase, a melhor maneira de procurar bons filmes é prestando atenção nesta figura fundamental para a realização cinematográfica. “Se o espectador gosta de um filme, deve anotar quem o dirigiu e buscar outros com a mesma assinatura. Nem sempre vai dar certo, mas é um caminho para encontrar obras interessantes,” aponta.

Nossas salas de cinema

Com o avanço tecnológico, as salas de cinema do Brasil também evoluíram. “Antes dos ‘multiplexes’ não se ouvia o som, era um absurdo”, recorda Rubens. Porém, para o crítico, o país ainda precisa de salas populares, voltadas para o público mais humilde. Gerbase tem a mesma opinião. “A ida dos cinemas para os shoppings fez com que aumentassem a qualidade técnica e o conforto, mas as classes C, D e E ainda não conseguem frequentá-los, em função dos altos preços dos ingressos”, diz.

Aprenda assistindo

O crítico e o cineasta dão algumas dicas de filmes essenciais para quem deseja aprender a apreciar o cinema de forma mais profunda. Algumas das sugestões acabaram sendo iguais, o que comprova a qualidade das obras recomendadas. Confira!

Rubens Ewald Filho

- Oito e Meio, de Federico Fellini (1963)
- 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968)
- A Malvada, de Joseph. L. Mankiewicz (1950)
- Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder (1950)
- Rashomon, de Akira Kurosawa (1950)
- O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais (1961)
- Terra em Transe, de Glauber Rocha (1967)
- Ladrões de Bicicletas, de Vittorio De Sica (1948)
- Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen (1952)
- Amor, Sublime Amor, de Jerome Robbins e Robert Wise (1961)

Carlos Gerbase

- Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder (1950)
- Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen (1952)
- O Poderoso Chefão (Partes 1, 2 e 3), de Francis Ford Coppola (1972, 1974 e 1990)
- Caminhos Perigosos, de Martin Scorsese (1973)
- O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman (1956)
- Luzes da Cidade, de Charles Chaplin (1931)
- Ran, de Akira Kurosawa (1985)
- O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci (1972)
- Interiores, de Woody Allen (1978)
- Pauline na Praia, de Eric Rohmer (1983)
Além de todos os filmes do diretor Stanley Kubrick.

Publicada na revista Panvel Sempre Bem nº 9, editada pela Giornale, em março/2009
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Foto: © 2018 R.E.M.HQ

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PORTO ALEGRE, RS — Próximos de completar 30 anos de carreira, os americanos do R.E.M. estão em estado de graça. Lançaram um grande álbum, viajaram por todo o planeta e, para finalizar seu acelerado 2008, vieram pela segunda vez ao Brasil em uma turnê vitoriosa, que passou por três capitais. O que quase ninguém sabe é que por muito pouco isso tudo não deixou de acontecer. 

“Um dos melhores trabalhos do R.E.M.”, “o disco mais consistente da banda desde Automatic for the People”, “um álbum que ecoa o período em que fizeram suas melhoras músicas”. Foi neste tom que boa parte da imprensa especializada internacional (Rolling Stone, Spin, NME), recebeu Accelerate, o 14º álbum de estúdio produzido pelo grupo norte-americano R.E.M., em abril de 2008. Quatro anos após o lançamento do fracassado Around the Sun – disco que desagradou críticos e fãs de forma idêntica – o trio de Athens (no estado da Georgia) recuperou o prestígio que sempre ostentou, desde o lançamento de Murmur, 25 anos atrás.

Mas, para reencontrar o rumo das ótimas melodias de Peter Buck (guitarrista) e Mike Mills (baixista e tecladista), e das harmonias vocais inimitáveis de Michael Stipe, o R.E.M. precisou reavaliar a forma de trabalhar como grupo e – mais importante do que isso – teve que se certificar de que a vontade de continuar tocando juntos ainda existia.

O jornalista gaúcho e colunista do jornal Zero Hora Roger Lerina, fã da banda desde os anos 80 e especialista no assunto, acompanhou alguns shows da turnê europeia neste ano e teve a oportunidade de conversar com o próprio Michael Stipe e algumas pessoas próximas aos músicos, como o empresário Bertis Downs e uma amiga pessoal do vocalista. Estes últimos garantiram que a crise após o insucesso de 2004 foi grande. 

“Chegando perto dos 30 anos de carreira, eles definitivamente consideraram a possibilidade de parar. Mas a amizade entre os três prevaleceu e a banda resolveu partir para outros caminhos”, revelou o jornalista.

Deixando os teclados de lado e munindo-se novamente de guitarras e muita disposição, o ex-quarteto – o baterista Bill Berry saiu em 1997 sem jamais ser substituído oficialmente – conseguiu o inimaginável: compor um dos melhores discos de sua extensa e celebrada carreira.

Acelerando a América Latina

Foram poucas as oportunidades que os latinos tiveram de conferir o R.E.M. ao vivo. Exceto por alguns shows no México em 2004 e as lendárias apresentações da banda no Rio de Janeiro (RJ) e em Buenos Aires (Argentina), em 2001 (respectivamente no Rock in Rio e em um festival paralelo que ocorreu na capital argentina), o público local só conhecia o trabalho do grupo por meio de discos, vídeos e internet. No entanto, além de se redimir perante seus admiradores do mundo inteiro com um grande álbum, em 2008 o R.E.M. também pôde se desculpar trazendo a turnê de Accelerate para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela. O país do samba foi o privilegiado-mor, com quatro apresentações: uma em Porto Alegre (RS), uma no Rio de Janeiro (RJ) e duas em São Paulo (SP).

Ao contrário do que muita gente diz – que o Brasil só recebe artistas em decadência – o R.E.M. aterrissou por aqui em uma de suas fases mais criativas e elogiadas. A nós, fãs, só resta agradecer e torcer para que a banda acelere sua próxima visita o máximo possível.  

Para começar bem

Se você não conhece muito, mas quer entrar no universo sonoro do R.E.M., Roger Lerina aponta três álbuns fundamentais entre os 14 da discografia do grupo.

Murmur (1983) – “É o primeiro disco deles, e o estilo singular da banda, que mistura rock alternativo, new wave, folk e country, já está lá”.

Out of Time (1991) – “Impossível não citar o sétimo disco do grupo, o maior sucesso deles até hoje, com mais de 10 milhões de cópias vendidas no mundo todo. Além de trazer o megahit 'Losing my Religion', o álbum tem pérolas como 'Country Feedback', 'Shiny Happy People', 'Belong', 'Me in Honey' e 'Radio Song'”.

Accelerate (2008) – “O R.E.M. reconcilia-se com sua veia mais roqueira nesse disco rápido (menos de 40 minutos) e recheado de rocks guitarreiros e dançantes, como 'Living Well is the Best Revenge', 'Hollow Man', 'Man-Sized Wreath', 'I'm Gonna DJ' e 'Supernatural Superserious'”.

* Publicada na revista Versatille, editada pela Giornale (Nov/2008)
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