Out Of Time, R.E.M.

by - 10/12/2020

Vídeo de "Losing My Religion" faturou prêmios e ajudou a levar o R.E.M. ao mainstream


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Um vocalista que flertava com a androginia sem abandonar seu lado nerd, um guitar hero esquisitão que não fazia solos, um baixista que parecia recém-saído de uma aula de química orgânica e um baterista com pinta de professor de sociologia. Não era exatamente o que se esperava de uma banda de rock no auge da era MTV, certo?

Durante toda a década de 80, no entanto, aquela mistura que parecia fadada ao fracasso — o próprio vocalista Michael Stipe confessou não querer tocar em uma banda com alguém de aparência tão lambisgoia quanto o baixista Mike Mills — fez do R.E.M. a maior banda norte-americana de sua época. E não sou eu quem está dizendo: foi a revista Rolling Stone que os definiu assim, em matéria de capa de sua edição de dezembro de 1987, logo após o lançamento de Document, seu quinto álbum.

Após criar seu som com base no punk rock, na new wave e na poesia de Patti Smith, o quarteto de Athens (Georgia, EUA) foi conquistando seu espaço: primeiro, nas college radios americanas, fazendo a cabeça de jovens antenados em novos sons, que fugiam da estética já ultrapassada do sexo, drogas e rock n’ roll dos anos 70. Depois, foi superando novas etapas, chegando inclusive a se apresentar em shows de TV do estilo late night – a performance de “Radio Free Europe”, no programa de David Letterman, em 1983, é histórica e está disponível no YouTube.

Mas faltava algo para o R.E.M. se tornar uma banda global — não que essa fosse a intenção. Após um quase-hit com “The One I Love”, em 87, a banda fez uma grande turnê de seu álbum seguinte, Green, lançado dois anos depois. Focando cada vez mais no visual — os figurinos criativos de Stipe, com múltiplos telões e projeções artísticas deram o tom dos shows, além dos vídeos com rodagem intensa na MTV — o quarteto foi ampliando seu público pouco a pouco.

A grande explosão de popularidade, no entanto, veio apenas em 1991, com o lançamento de Out of Time. Com o maior hit da carreira — “Losing My Religion” — o R.E.M. saiu do seu caráter de “banda alternativa” para se tornar uma das maiores da música pop. Canções acessíveis — embora com um tom de sarcasmo — como “Shiny Happy People” ajudaram a tornar o quarteto ainda maior no mercado fonográfico.

Mas Out of Time é muito mais do que isso: “Radio Song”, a música que abre o álbum, traz na guitarra de Buck sua marca registrada ao mesmo tempo que adiciona um elemento novo: o rap, com a participação de KRS-One. “Texarkana” é o indie/pop perfeito que tantas bandas da época tentaram imitar — e soa ainda mais redondo com o vocal de Mike Mills. Já “Country Feedback” poderia ter sido composta por Neil Young, demonstrando uma variedade incrível de estilos para uma única banda.

Nos anos seguintes, o R.E.M. continuou trilhando um caminho de alta popularidade, com discos de sucesso como Automatic for the People, e uma oferta assombrosa da Warner, considerando-se as raízes underground do grupo — US$ 80 milhões por cinco álbuns. O contrato foi assinado em 1996, superando números de pop stars como Michael Jackson e Madonna.

Como consequência, a banda continuou lançando álbuns frequentemente — mas fazendo turnês cada vez menores, graças à estafa causada pelas longas viagens, o que inclusive resultou na saída do baterista Bill Berry, em 1998. Isso pelo menos até 2011, quando o grupo divulgou um comunicado na internet anunciando o fim da carreira de 31 anos. Sua missão, no entanto, já estava cumprida há muito tempo. E Out of Time é apenas um dos belos capítulos dessa história.






Texto publicado originalmente no e-book "1991: 25 textos em celebração aos 25 anos de álbuns clássicos do rock e da música pop", disponível na Amazon, em 2017.

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