Entrevista: Los Hermanos

by - 8/06/2018


Foto: Bruno Maestrini

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PELOTAS, RS - Eles vieram. Os cariocas da banda Los Hermanos estiveram em Pelotas para apresentação única no Teatro Guarany, no dia 15 de abril de 2004. Centenas de fãs ávidos para conferir o quarteto no auge de sua forma lotaram o local em mais uma noite mágica, cheia de poesia e de belas melodias. Depois do show, batemos um papo rápido com Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, as duas mentes criativas por trás do som dos Los Hermanos.

Projeto Casulo - Como a banda foi recebida em Pelotas? O que acharam da cidade?

Marcelo Camelo - Eu, na verdade, dormi o dia inteiro. A gente chegou cedo de Porto Alegre, onde tocamos na noite passada, e não tivemos muito tempo pra dormir. Mas fiquei muito surpreso com a beleza do lugar. O teatro também é muito bonito e é bom tocar em lugares que privilegiam o som. Não é muito comum pra gente tocar em lugares com uma acústica boa assim. Nos preocupamos sempre com a qualidade do som e que as pessoas ouçam a música como ela realmente é. Quando tocamos em lugares com acústica ruim é horrível, porque a informação não chega para o público como deveria.

PC - Vocês tinham alguma expectativa em relação ao público pelotense? Se tinham, ela foi alcançada?

Camelo - Eu acho que sim, a gente tem encontrado em todo o país um público que realmente gosta da nossa música. Mas aqui, especificamente, é muito longe da nossa cidade e, por não ser uma capital, geralmente a informação demora um pouco mais pra chegar. A gente fica feliz de saber que temos um público aqui e que a nossa música está chegando.

PC - No ano passado, assistimos a um dos primeiros shows do Ventura, em Porto Alegre. Mesmo com o disco recém lançado, todo mundo cantava todas as músicas e vocês pareceram um tanto surpresos com isso. Essa devoção que os fãs tem em relação à banda assusta?

Camelo - Não, cara, a gente sente muito prazer em tocar as músicas. Às vezes as pessoas acham que ficamos surpresos, mas estamos apenas felizes, alegres de estar tocando e de ver as pessoas cantando junto. Porto Alegre é uma cidade em que a gente tem ido com frequência, pois temos um público forte lá.

PC - Qual a diferença entre os shows do começo da turnê e os de agora, quase um ano depois? Vocês estão mais à vontade?

Rodrigo Amarante - Sim, o lance de ficar à vontade tem a ver com o tempo mesmo, a gente passa a brincar mais, um fica chamando a atenção do outro, a gente se diverte mais.

PC - Os arranjos mudam um pouco também, não?

Amarante - É, têm várias referências, várias músicas têm sutilezas diferentes. Isso é a gente brincando, passando do ponto de conseguir tocar direito as músicas e chegando em outro estágio. E ver essas coisas acontecendo ainda com a reação do público é mais um incentivo pra continuar sempre mudando um pouquinho as músicas.

PC - Vocês estão compondo músicas novas durante as viagens? Durante a passagem de som vocês estavam tocando algumas coisas diferentes.

Amarante - É, estamos sempre compondo. Essa da passagem de som realmente era uma música nova, que ainda está pela metade. É bom ir sempre trabalhando nas músicas novas para que dê tempo de fazer um bom trabalho com os arranjos, quando a gente se isola num sítio, no Rio. Geralmente eu estou sempre atrasado e tenho que fazer tudo em cima da hora, mas até agora estou dentro do prazo.

PC - Sobre os fãs procurarem significados nas letras...

Amarante - Ah, tem mais é que procurar significado! Senão a letra serve pra quê?

PC - Então vocês escrevem as letras com significados próprios mas, ao mesmo tempo, permitem interpretações dos fãs?

Amarante - Não existe um significado próprio, só meu. Eu escrevi, e o que tá escrito é o que existe. Não tem um significado meu. Quer dizer, pode até ter, mas ele também pode mudar. Eu vivo encontrando coisas novas nas músicas que eu mesmo escrevi. Cada um pode interpretar de um jeito. "Do Sétimo Andar", mesmo. Eu já ouvi várias interpretações maluquíssimas em relação a essa música.

PC - Como a do cachorro... [Nota: muitos fãs acreditam que a letra de "Do Sétimo Andar" seja sobre um homem que sente falta de seu cão].

Amarante - É. Por isso que eu acho furada essa história de prova de interpretação. Não tem interpretação errada. Cada um imagina uma coisa. O cara pode falar que essa música é sobre um cachorro e pronto (risos).

PC - Sobre a forma de compor, fica bem claro que existem diferenças entre os dois, Amarante e Marcelo. Uma fã escreveu num fórum sobre a banda na internet que "o Amarante é só pra fazer sexo, o Marcelo é pra casar". O que vocês acham disso?

Amarante - Tá vendo? Cada um pensa o que quer. Inclusive grandes besteiras (risos).

PC - Vocês já têm planos para os próximos meses?

Camelo - Sim, vamos tocar em Portugal no mês de junho. Depois disso, vamos lançar um DVD pra finalizar o trabalho de divulgação do Ventura e começar a trabalhar em um novo álbum, para lançar no ano que vem.

Entrevista originalmente publicada na revista online Projeto Casulo (Abril/2004).

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