Redenção em Movimento

by - 8/01/2018

Foto: © 2018 R.E.M.HQ

This article is available in Portuguese only.

PORTO ALEGRE, RS — Próximos de completar 30 anos de carreira, os americanos do R.E.M. estão em estado de graça. Lançaram um grande álbum, viajaram por todo o planeta e, para finalizar seu acelerado 2008, vieram pela segunda vez ao Brasil em uma turnê vitoriosa, que passou por três capitais. O que quase ninguém sabe é que por muito pouco isso tudo não deixou de acontecer. 

“Um dos melhores trabalhos do R.E.M.”, “o disco mais consistente da banda desde Automatic for the People”, “um álbum que ecoa o período em que fizeram suas melhoras músicas”. Foi neste tom que boa parte da imprensa especializada internacional (Rolling StoneSpinNME), recebeu Accelerate, o 14º álbum de estúdio produzido pelo grupo norte-americano R.E.M., em abril de 2008. Quatro anos após o lançamento do fracassado Around the Sun – disco que desagradou críticos e fãs de forma idêntica – o trio de Athens (no estado da Georgia) recuperou o prestígio que sempre ostentou, desde o lançamento de Murmur, 25 anos atrás.

Mas, para reencontrar o rumo das ótimas melodias de Peter Buck (guitarrista) e Mike Mills (baixista e tecladista), e das harmonias vocais inimitáveis de Michael Stipe, o R.E.M. precisou reavaliar a forma de trabalhar como grupo e – mais importante do que isso – teve que se certificar de que a vontade de continuar tocando juntos ainda existia.

O jornalista gaúcho e colunista do jornal Zero Hora Roger Lerina, fã da banda desde os anos 80 e especialista no assunto, acompanhou alguns shows da turnê europeia neste ano e teve a oportunidade de conversar com o próprio Michael Stipe e algumas pessoas próximas aos músicos, como o empresário Bertis Downs e uma amiga pessoal do vocalista. Estes últimos garantiram que a crise após o insucesso de 2004 foi grande. 

“Chegando perto dos 30 anos de carreira, eles definitivamente consideraram a possibilidade de parar. Mas a amizade entre os três prevaleceu e a banda resolveu partir para outros caminhos”, revelou o jornalista.

Deixando os teclados de lado e munindo-se novamente de guitarras e muita disposição, o ex-quarteto – o baterista Bill Berry saiu em 1997 sem jamais ser substituído oficialmente – conseguiu o inimaginável: compor um dos melhores discos de sua extensa e celebrada carreira.

Acelerando a América Latina

Foram poucas as oportunidades que os latinos tiveram de conferir o R.E.M. ao vivo. Exceto por alguns shows no México em 2004 e as lendárias apresentações da banda no Rio de Janeiro (RJ) e em Buenos Aires (Argentina), em 2001 (respectivamente no Rock in Rio e em um festival paralelo que ocorreu na capital argentina), o público local só conhecia o trabalho do grupo por meio de discos, vídeos e internet. No entanto, além de se redimir perante seus admiradores do mundo inteiro com um grande álbum, em 2008 o R.E.M. também pôde se desculpar trazendo a turnê de Accelerate para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela. O país do samba foi o privilegiado-mor, com quatro apresentações: uma em Porto Alegre (RS), uma no Rio de Janeiro (RJ) e duas em São Paulo (SP).

Ao contrário do que muita gente diz – que o Brasil só recebe artistas em decadência – o R.E.M. aterrissou por aqui em uma de suas fases mais criativas e elogiadas. A nós, fãs, só resta agradecer e torcer para que a banda acelere sua próxima visita o máximo possível.  

Para começar bem

Se você não conhece muito, mas quer entrar no universo sonoro do R.E.M., Roger Lerina aponta três álbuns fundamentais entre os 14 da discografia do grupo.

Murmur (1983) – “É o primeiro disco deles, e o estilo singular da banda, que mistura rock alternativo, new wavefolk e country, já está lá”.

Out of Time (1991) – “Impossível não citar o sétimo disco do grupo, o maior sucesso deles até hoje, com mais de 10 milhões de cópias vendidas no mundo todo. Além de trazer o megahit 'Losing my Religion', o álbum tem pérolas como 'Country Feedback', 'Shiny Happy People', 'Belong', 'Me in Honey' e 'Radio Song'”.

Accelerate (2008) – “O R.E.M. reconcilia-se com sua veia mais roqueira nesse disco rápido (menos de 40 minutos) e recheado de rocks guitarreiros e dançantes, como 'Living Well is the Best Revenge', 'Hollow Man', 'Man-Sized Wreath', 'I'm Gonna DJ' e 'Supernatural Superserious'”.

* Publicada na revista Versatille, editada pela Giornale (Nov/2008)

You May Also Like

0 comments